Família e Escola

Comunicação não-violenta com pais e alunos: como aplicá-la na sua escola?

O conceito de comunicação não-violenta vem se tornando mais comum nos últimos anos, em especial entre os círculos relacionados à psicologia, pedagogia, coaching e até mesmo no cotidiano de indivíduos que buscam uma forma mais eficiente de melhorar suas relações.

No entanto, levando em conta o poder desta abordagem de prover conexões mais sinceras entre as pessoas, ainda há muito o que se explorar em relação ao assunto.

A comunicação não-violenta é um conceito que propõe uma vida mais equilibrada, por meio de processos comunicacionais que são pensados para desenvolver a empatia, a compaixão, a autoexpressão e a compreensão dos desejos dos outros.

O intuito é permitir que possamos ouvir não apenas as necessidades dos outros, mas também as nossas próprias, criando também o ambiente e o método para expressá-las de forma clara, saudável e livre de conflitos.

A prática da comunicação não-violenta permite esclarecer as emoções que estão sendo sentidas por todos os envolvidos na conversa, ajuda a compreender os valores que são importantes para cada um e facilitar a expressão das necessidades individuais mais profundas.

Assim, dispensa o uso de culpa e julgamento, tão frequentes nos diálogos que não seguem as premissas dessa abordagem, e possibilita conexões mais verdadeiras entre as partes envolvidas.

“Quando nos concentramos em esclarecer o que está sendo observado, sentido, e necessário ao invés de diagnosticar e julgar, descobrimos a profundidade de nossa própria compaixão.” Marshall B. Rosenberg

As técnicas de comunicação não-violenta são úteis em qualquer contexto, mas em um ambiente escolar se fazem ainda mais importante.

Afinal, a escola, além de ser uma das responsáveis não apenas por ensinar conteúdos práticos, mas também por contribuir com a formação de pessoas preparadas para o mundo, pode levar os conceitos para além da sala de aula a fim de alcançar relações mais prósperas com todos os envolvidos no meio escolar.

Na prática, a escola pode aplicar os conceitos por meio de três ideias principais: pela reflexão pessoal honesta e compassiva, por meio da comunicação sincera com os outros e por meio da escuta empática.

A comunicação não-violenta em casos de indisciplina na escola

A comunicação não-violenta é uma abordagem promissora para lidar com momentos de indisciplina nas escolas por abrir mão de ações exclusivamente punitivas e incluir uma abordagem de compreensão. Para isso, uma estrutura de quatro etapas pode ser utilizada:

1 – Observação

Ao invés de acusar o aluno de alguma atitude inapropriada e submetê-lo a uma situação constrangedora, a comunicação não-violenta sugere que o comportamento seja apenas observado.

Ex: Eu notei que você não fez os exercícios propostos para a aula de hoje.

Ou seja, dessa forma, você se abre para o diálogo, ao invés de começar a conversa com julgamentos.

2 – Sentimentos

Aqui, novamente, abre-se mão de ameaças. O professor pode trocar o “você vai tirar um zero no trabalho” por um “Eu me sinto preocupado.”

3 – Necessidades

Todas as partes envolvidas na comunicação possuem necessidades próprias, que precisam ser manifestadas para uma comunicação sincera.

O professor pode, então, revelar que sua necessidade é garantir as melhores oportunidades de aprendizagem para os alunos e assegurar que eles tomem proveito delas. “Eu me sinto preocupado, porque valorizo sua oportunidade de aprender”

4 – Pedir

Pedir por pedir, sem fazer com que a outra parte entenda de forma empática o que há por trás do pedido, pode resultar em frustração tanto da parte que se decepciona com o pedido não atendido quanto da parte que não entende porque precisa fazer algo pelo outro, especialmente quando é algo desagradável.

Mas com o contexto, os sentimentos e a clareza da comunicação, as chances de sucesso são maiores.

Aqui, novamente, o professor pode deixar de lado as acusações e o tom de ameaça e optar por perguntar de forma empática “Você gostaria de me falar por que você não fez os exercícios?”.

A resposta nem sempre vai ser a desejada e essa estratégia pode não render um resultado imediato após a primeira abordagem.

No entanto, é essencial que o professor crie um espaço livre e aberto para que o aluno se sinta confortável em falar.

Caso ele opte por não responder diretamente no momento em que é questionado o porquê de não ter feito tal atividade, o professor pode abrir a porta para que, mais tarde ou em outra situação, ele sinta que pode abrir o jogo e baixar a guarda.

Dessa forma, cria-se confiança e a relação vai melhorando aos poucos, assim como o desejo das duas partes de cederem e de respeitarem os pedidos uns dos outros.

Como aprimorar a comunicação da escola com comunicação pais e filhos?

A diferença de opiniões entre pais, professores e outros membros da comunidade escolar pode causar um sentimento de desconforto. No entanto, todos os envolvidos neste meio têm em comum o desejo de agir conforme o que é melhor para o bom andamento da escola.

Quando uma crise nesse sentido acontece, pode ser difícil ouvir de verdade e se expressar de forma clara, buscando criar confiança e evitando reclamações, comparações e julgamento. Porém, é nesses momentos que a comunicação não-violenta é mais importante.

No geral, a comunicação não-violenta é especialmente importante em momentos de crise. E não por acaso é nessas horas em que é mais difícil ter calma para tentar de fato entender o outro lado da situação.

Quando um dos pais tem um problema com algo que aconteceu na escola, por exemplo, é comum que a sua primeira reação impensada seja acusativa. Da mesma forma, pode ser desafiador para os educadores comunicar um problema aos pais sem transparecer julgamento ou frustração.

Independentemente do caso, o caminho para começar a se comunicar de forma não-violenta é o mesmo.

Começa por observar a situação, livre de julgamentos. Ao comunicar aos pais que um determinado aluno – o filho deles – tem um comportamento “problemático”, é importante que essa comunicação seja precisa e expresse apenas informação, e não uma opinião e nem mesmo uma avaliação do que é certo ou errado.

Apenas os fatos, como por exemplo: “O João tem demonstrado um comportamento agressivo nas aulas de educação física”.

Depois, passa para a expressão do sentimento. “Eu sinto que isso pode prejudicar a relação dele com a turma e pode acabar impactando nas suas amizades”.

Em seguida, expressa de forma clara as suas necessidades. “É importante para mim que vocês prestem atenção a este problema que dividimos, e conversem com ele sobre o assunto”.
Por fim, um pedido. “É por isso que eu peço que vocês conversem com ele para tentar entender de onde vem a agressividade e me ajudem a encontrar uma maneira de contê-la.”.

A mesma estratégia pode ser adotada para quaisquer outras situações, tanto entre alunos e professores quanto entre os demais membros da comunidade escolar.

É importante, porém, sempre ter em mente que um dos principais pontos de partida para a comunicação não-violenta é a criação de um espaço aberto para as conversas, livre de julgamentos.

Além disso, vale lembrar que nem sempre a outra parte vai estar disposta a adotar os princípios desta abordagem. Por isso, é preciso ter paciência para que, aos poucos, esse ambiente de comunicação assertiva e livre de violência vá ganhando adeptos e se torne o novo normal da comunicação escolar.

A comunicação não-violenta em casos de inadimplência escolar

Quando existe inadimplência, as técnicas de comunicação não-violenta podem ajudar muito. Afinal, resolver o problema da inadimplência gerando atritos na relação com os pais pode afetar os resultados da escola no médio e longo prazo, por gerar insatisfações.

É importante ter formas de analisar o comportamento das famílias. É comum atrasarem? Estão sempre postergando os pagamentos? Compreender bem o cenário de cada família vai ajudar a equipe financeira a ter uma comunicação mais eficaz em cada caso.

Ao abordar a inadimplência, é interessante sua escola mostrar uma genuína preocupação em entender o porquê dela e daí buscar formas de negociar, de acordo com os princípios da sua instituição.

Veja também: Como organizar a Gestão Financeira Escolar?

Antes de pensar no tipo de comunicação quando há a inadimplência, podemos pensar no que fazer antes do atraso de pagamento ocorrer.

Se sua escola utiliza um aplicativo, pode configurar lembretes automáticos nas datas de pagamento, que vão gerar uma notificação no smartphone dos responsáveis.

O simples envio dos lembretes pode contribuir muito para evitar os esquecimentos.

Se sua escola usa o Pague, pode até mesmo enviar mensagens os pagamentos pelo app e ter lembretes apenas para os pais inadimplentes.

A mensagem pode ter uma conotação de lembrança e é automática, o que passa uma conotação bem mais amena que uma cobrança. Ter clareza na comunicação sobre os pagamentos é um meio de evitar as insatisfações com as cobranças.

Para evitar a inadimplência, ter canais de atendimento rápidos e eficientes para os pais é também essencial. Por exemplo, se o responsável quer uma segunda via de boleto, um atendimento rápido fará toda diferença para que o atraso seja resolvido também com celeridade.

Quando a escola tem pais inadimplentes, deve ter sempre em mente que é bem possível que essas famílias passem por outras dificuldades em seus compromissos financeiros.

Segundo a especialista contábil Ana Paula Cardoso, o inadimplente sempre vai negociar com quem chega primeiro e com quem oferece mais possibilidades de pagamento e negociação.

Por isso, é tão importante sua escola ter uma comunicação direta com as famílias, ter meios rápidos para o atendimento e estar aberta sempre ao diálogo e negociação.

Esperamos que este conteúdo tenha trazido inspirações e aprendizados importantes para te ajudar na escola.

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