Oito em cada dez educadores são mulheres.
Nos cursos de Pedagogia, as mulheres correspondem a 93% do total de estudantes e têm 34% mais chances de se formarem na faculdade do que os homens, segundo relatório da OCDE.
Nos últimos 365 dias, em nosso blog, 83% dos nossos leitores foram mulheres.
Se o futuro da humanidade passa pela educação, ele está sendo moldado diariamente em grande parte por mãos (e mentes) femininas.
Pensando em mulheres que inspiram o nosso dia a dia ao movimentar as escolas, queremos compartilhar bons exemplos e bonitas histórias. Esperamos que gostem!
Maria Vitória começou no mundo da pesquisa aos 10 anos. Sua história na ciência começou quando sua mãe faleceu de câncer. Da imensa dor, surgiu um sonho ousado: descobrir a cura do tumor maligno.
Existiam, naquele momento, vários obstáculos para que ela focasse no sonho, ao invés de ficar presa na dor do luto.
Ela tinha problemas familiares e vivia um relacionamento complicado com o pai. Ela foi então morar com outras pessoas e o sonho foi então ficando de lado…
Aos 14 anos, a escola possibilitou que ela conhecesse alguém que transformou sua vida. Era Fábio Bruschi, seu professor de Biologia, que lhe ensinou a como ser uma pesquisadora.
Mais do que apresentar a ciência de um modo mais profundo, Fábio a incentivou a acreditar no sonho de “salvar o mundo”.
Ela sempre teve muita perseverança nos estudos. Aos 17 anos, ela era a única pessoa da América Latina a chegar na final da competição de jovens cientistas do Google nos EUA, e a primeira mulher brasileira a participar três vezes consecutivas da maior Feira de ciências do mundo, a Intel ISEF.
Com o sucesso absurdo que ela vivia fora de casa, os problemas familiares persistiam. Até que, em 2015, ela voltou a morar com o pai. Tanto ela como o pai chegaram a conclusão que, com tanto sucesso acadêmico, eles precisavam aprender a se dar bem.
Maria Vitória conseguiu superar os desafios no relacionamento com o pai. As suas conquistas começaram a se tornar também as vitórias dele.
No começo de 2019, novamente a vida batia duro. Seu pai ficou doente, teve uma lesão cerebral, parou de andar e falar e, uma semana antes dela fazer essa incrível palestra no Ted, ele faleceu.
“Se não fosse pela pesquisa e pela educação eu teria largado tudo.”
Hoje, com 19 anos, ela felizmente continua perseverando. Além de já ter ganhado mais de 30 prêmios nacionais e internacionais, atualmente ela trabalha com o desenvolvimento de um tratamento para a candidíase, a partir de uma bactéria que encontrou em uma laranja.
Ela garante que o Brasil está cheio de Marias Vitória, com problemas ainda piores que o dela, com dificuldades ainda maiores, mas Marias Vitória cheias de ideias, jovens com sede pelo aprendizado.
Essas garotas (ou garotos ) estão esperando por algum educador que olhe para eles e que acreditem. Da mesma forma que o Fábio fez com ela.
A pedagoga Mariana Benchimol traz, em sua palestra no Ted Talks, uma série de inspirações para fortalecer a educação por meio da diversidade.
Mariana, que atuou nove anos na gestão escolar e atualmente trabalha em ONGs como gestora de projetos, desafia educadores e escolas a repensarem suas prioridades, seus métodos e escolhas.
O que vale para os estudantes é ter informações para tirarem boas notas, ou precisam de conhecimento para ter pensamento crítico?
Precisamos de uma escola comprometida em aumentar o PIB no futuro, ou com uma instituição de ensino comprometida em ajudar alunos a serem felizes?
Que habilidades precisamos desenvolver nos estudantes e em nós mesmos para sermos felizes?
Mariana cita os quatro pilares da educação da Unesco. Os alunos precisam aprender a:
Ser
Conviver
Fazer
Conhecer
Para ela, as escolas devem se preocupar em dar um presente feliz para os alunos. E, para isso, precisam despertar nos jovens a vontade de aprender.
E é muito mais difícil conseguir despertar essa vontade apenas propondo a troca entre o conhecimento por notas.
Podemos relacionar neste argumento até mesmo a história da Maria Vitória contada neste artigo, que entrou no mundo da ciência sonhando com a cura do câncer, doença que levou a sua mãe.
Marina propõe que as escolas levem para seu ambiente os assuntos que as crianças e os jovens amam, para que sejam sujeitos da própria aprendizagem.
Se a motivação pela aprendizagem existe de verdade, o aprendizado ocorre de forma natural.
Ela sonha que as escolas comecem a se aproveitar da diversidade de pessoas para gerar mais aprendizado. Quando os indivíduos sabem lidar com as diferenças, podem unir os diferentes tipos de saberes e crescer juntos.
Se existe respeito à diversidade, todas as habilidades podem ser melhor desenvolvidas junto ao saber acadêmico.
O mundo sofre demais por problemas de relacionamento entre as pessoas. A escola precisa se preocupar mais com isso.
Tem gente que faz chocolate.
Tem gente que faz móveis.
E gente que faz gente: os educadores!
É assim que a socióloga com pós-graduação em educação Lourdes Atié, busca espalhar suas ideias para que a carreira do professor seja mais valorizada.
Lourdes fala sobre um clichê muito comum. Dizem que a escola é do século XIX, os professores são do século XX e os alunos do século XXI. E que, por isso, essa é uma equação quase impossível de ser resolvida.
Falam que educação no Brasil vai mal pela formação dos professores ser ruim. Ela devolve o questionamento para a sociedade: quando todos vão assumir o papel que têm na educação?
Todos são capazes de se lembrar de um ou mais professores que fizeram a total diferença em sua vida.
Só o professor é capaz de olhar para cada um de seus alunos e dizer: você vai ser grande. Você é capaz de aprender tudo que quiser. Você de fato tem a força da mudança. E isso tem o poder de transformar destinos.
Lourdes afirma que, para que o professor consiga fazer isso, ele precisa, acima de tudo, parar de fazer o que não é de sua responsabilidade.
Ela cobra comprometimento de todos para que o professor possa fazer aquilo de fato que precisa fazer. Sem ter que ser psicólogo, porteiro, babá ou até mesmo policial nas salas de aula.
Que tenha tempo para fazer o papel mais importante entre todas as funções: formar gente!
Se falamos de histórias inspiradoras de grandes mulheres na educação, este símbolo não pode ficar de fora.
Uma tragédia ocorreu na Creche Gente Inocente, em Janaúba (MG), em 2017. No dia 5 de outubro, o porteiro Damião Soares, de 50 anos, ateou fogo em crianças e nele mesmo.
O incêndio deixou 14 pessoas mortas. 10 eram crianças, duas funcionárias, o próprio agressor e Heley, a professora.
Segundo os relatos, Heley salvou mais de 25 crianças. Ela colocou sua vida em risco para salvar as crianças.
A professora trabalhava na Creche Gente Inocente há apenas um ano antes da tragédia. Em 2005, ela perdeu o primogênito, na época com 5 anos, por afogamento na piscina de um clube. Ela deixou outros três filhos.
A creche, onde aconteceu a tragédia, foi reformada e atualmente leva o nome da professora. A rodovia LMG-631, que liga o município de São João da Ponte à BR 122, também recebeu o nome Professora Helley de Abreu Batista.
Que a história de Heley seja sempre lembrada e seu exemplo de amor e heroísmo nos inspire a sonhar e agir por uma educação melhor.
Quando a coordenadora pedagógica Joice Lamb chegou na EMEF Prof.ª Adolfina J.M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS), em 2012, ela se sentiu impotente.
Havia muita defasagem entre os alunos e, mesmo vendo que todos os educadores trabalhavam muito, ela percebeu que não tinham muito direcionamento. Por isso, a falta de resultados.
Ela tinha a intenção clara de transformar essa realidade e, logo no início, a escola implementou três ações importantes:
A gestão democrática: os alunos, os pais e os professores participavam de assembleias para uma gestão conjunta
Um projeto de aprendizagem para minimizar as distorções de série
O monitoramento contínuo de alfabetização nos primeiros anos
Tudo isso caracteriza o “jeito de ser Adolfina”, como a escola gosta de se definir. O que a escola busca é que todos possam aprender e compartilhar os seus saberes, valorizando o trabalho coletivo.
A cultura de trabalho da escola deu a origem ao projeto #aprenderecompartilhar. Nesse projeto, o toque de inovação não tem a ver com tecnologia. Tem a ver com olhar para dentro da escola e perceber quais são os reais problemas e como resolvê-los.
Segundo Joice, o segredo é o clima acolhedor. “As pessoas se sentem bem e todos são responsáveis por este clima”.
Outro projeto interessante desenvolvido foi o Fora da Caixa. Nele, os alunos de diferentes séries se reúnem, uma vez por semana, com um professor diferente e são levados a uma oficina.
Assim, o aprendizado é compartilhado não somente em uma turma e sim realmente vivido na prática na rotina da escola.
Joice ganhou o Prêmio Educador Nota 10, o maior e mais importante prêmio da Educação Básica Brasileira, com mais de 5 mil escritos, como a educadora do ano de 2019.
Acreditamos que também todas as mulheres têm algo a compartilhar sobre seus grandes feitos na educação. Gostou dessas histórias? Gostaria de compartilhar conosco alguma experiência?
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